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A economista Isabel Jonet foi considerada pelo jornal "Expresso" a Figura Nacional do ano de 2007. Independentemente da sua obra à frente do Banco Alimentar Contra a Fome, ela foi mediaticamente consagrada por uma frase que proferiu na ocasião: "Caridade é amor, solidariedade é serviço".

É uma frase que se bate por uma visão do mundo, pressupondo que o "amor" é bom e o "serviço" é mau (ambas as asserções mais do que duvidosas) e concluindo que a "caridade" é boa e a "solidariedade" é má (mais duas conclusões duvidosas). É uma frase que, agressivamente, tenta simplificar as coisas. E atira à cara da esquerda esta provocação: "Vocês dizem que são bonzinhos, mas não são, nós é que somos".

É uma frase manipuladora. Em vez dela, podemos dizer, sem errar: "Caridade é humilhação, solidariedade é respeito." Explicaremos melhor. Para já, exploremos as contradições da máxima de Isabel, começando por enaltecer a ideia de "serviço". Vamos então a isso, anti-portuguesmente.

Sim, é bom servir. Sim, as sociedades mais desenvolvidas são aquelas em que as pessoas sentem que prestam serviços umas às outras e que é graças a isso que as coisas funcionam bem. Durkheim chamou-lhe "solidariedade orgânica". Sim, o serviço pode ser um acto de amor. Quando servimos os nossos filhos e pais, por exemplo. Quando trabalhamos, servimos, todos os dias, muitas pessoas. E isso é bom. Enfim… E você, não serve? Se não, isso é grave. Devia servir. E há um substantivo que designa o acto de servir: chama-se Serviço, por muito que isso custe à Figura do Ano.

A solidariedade é, de facto, serviço, como ela diz. E é excelente por isso.

Já a frase "caridade é amor", se bem que verdadeira, traz água no bico. Um mar, diríamos. Amor a quem? E é o quê o amor?

À primeira pergunta, respondemos: amor aos ricos e à hierarquia económica e social. Não é só os pobres que os caridosos ricos amam: eles amam também o facto de eles serem ricos e os outros pobres. E não dizem que estes dois amores são as duas faces da moeda Caridade.

À segunda pergunta (O que é o amor?), respondemos: Amor é fogo que arde sem se ver / É ferida que dói e não se sente / É um contentamento descontente / É dor que desatina sem doer. Ou então, melhor assim, deitamos mão àqueles livrinhos e autocolantes da nossa puberdade da série "O amor é". E, nessa essência paradoxal cantada por milhões de poetas, amor e caridade ligam bem. A caridade também encerra contradições. Como dizia uma freira com quem falámos em tempos, "a esmola humilha quem dá e quem recebe". Porque o sentido da esmola e da caridade é a afirmação e a consolidação duma relação de forças. Porque quem dá esmola está a dizer ao outro: "Eu sou rico e tu és pobre", e está a dizer a si próprio: "Estou a tentar provar que sou uma pessoa boa, mas não consigo".

O que justifica a nossa contra-provocação: "Caridade é humilhação, solidariedade é respeito." Teoricamente, aquele que se solidariza está a respeitar quem se encontra numa posição mais débil e eventualmente a prescindir de benefícios a favor dela.

Mas para Isabel Jonet, os pobrezinhos deste mundo não devem dar-se apenas por agradecidos, eles devem dar-se por *amados* ao receberem a esmola.

Enfim, apreciaríamos a caridade se ela fosse obrigatória, o que é um contra-senso. Todos os ricos terem que dar uma esmolinha bem grande aos mais pobres, por lei, isso sim - impostos, Estado social. Assim, todos praticam o bem, com amor ou sem ele. Mas isto de fazer depender o pão da miséria moral a que chamam caridade só tem um nome: farsa.

Os "prémios do ano" instituídos pelos jornais e revistas estão ligados a visões do mundo e a ideologias, consagram ritualmente essas ideologias. É o caso. A frase de Isabel Jonet é a face grosseira e hiperbólica da ideologia pseudo-liberal na qual vivemos mergulhados. Recapitulemos só alguns dos seus traços, porque quando vivemos mergulhados numa coisa não a vemos bem:

"O privado vale muito; o público vale pouco; o amor vale muito porque é privado; o serviço vale pouco porque é público; cada um tem o que merece; os ricos chegaram a ricos por mérito; os pobres chegaram a pobres por demérito; enquanto sociedade, não temos obrigação de ajudar os pobres; ajudamos se quisermos e se ajudarmos estamos a fazer caridade; se estivermos a fazer caridade, então amamos os pobres; se amamos os pobres, então somos bons e não temos que nos sentir culpados de viver no luxo e ficamos com a certeza de que luxo não é lixo; somos todos homens livres; salve-se quem puder; enganar o parceiro não é uma coisa tão má como isso, faz parte da competição; o Estado social contraria estas premissas todas pelo que não deve existir; os impostos não fazem sentido a não ser para financiarem a polícia e afins, de modo a garantir a segurança de quem precisa (sendo que quem não tem nada também não precisa de segurança); está bem, pronto, construam-se também umas estradas com os impostos."

Morra a caridade, morra -> Pim!



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